UM PÉ DE MILHO
Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua, o que não deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho.
Aconteceu que, no meu quintal, em um monte de terra trazida pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim - mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro da casa. Secaram as pequenas folhas; pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um amigo e declarou desdenhosamente que aquilo era capim. Quando estava com dois palmos, veio um outro amigo e afirmou que era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança suas folhas além do muro e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto centenas de milharais - mas é diferente.
Um pé de milho sozinho, em um canteiro espremido, junto do portão, numa esquina de rua - não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes roxas se agarram no chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis. Detesto comparações surrealistas - mas na lógica de seu crescimento, tal como vi numa noite de luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, de crinas ao vento e em outra madrugada, parecia um galo cantando.
Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas flores lindas no mundo, e a flor de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que me fazem bem. É alguma coisa que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. Eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da rua Júlio de Castilhos.
Rubem Braga
Aconteceu que, no meu quintal, em um monte de terra trazida pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim - mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro da casa. Secaram as pequenas folhas; pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um amigo e declarou desdenhosamente que aquilo era capim. Quando estava com dois palmos, veio um outro amigo e afirmou que era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança suas folhas além do muro e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto centenas de milharais - mas é diferente.
Um pé de milho sozinho, em um canteiro espremido, junto do portão, numa esquina de rua - não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes roxas se agarram no chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis. Detesto comparações surrealistas - mas na lógica de seu crescimento, tal como vi numa noite de luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, de crinas ao vento e em outra madrugada, parecia um galo cantando.
Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas flores lindas no mundo, e a flor de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que me fazem bem. É alguma coisa que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. Eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da rua Júlio de Castilhos.
Rubem Braga
01. A expressão sublinhada no segmento ''Os americanos, através do radar...'', indica:
A) lugar;
B) instrumento;
C) meio;
D) causa;
E) condição.
A) lugar;
B) instrumento;
C) meio;
D) causa;
E) condição.
02. A crônica acima foi escrita há mais de vinte anos por Rubem Braga; o segmento do texto que mostra sua não-atualidade é:
A) ''Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua,...'';
B) ''...sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos'';
C) ''Anteontem aconteceu o que era inevitável...'';
D) ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'';
E) ''Detesto comparações surrealistas...''.
A) ''Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua,...'';
B) ''...sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos'';
C) ''Anteontem aconteceu o que era inevitável...'';
D) ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'';
E) ''Detesto comparações surrealistas...''.
03. Entre os dois períodos do primeiro parágrafo do texto, a oposição mais importante para o próprio texto é:
A) estrangeiros X brasileiros;
B) emocionante X frio;
C) universal X particular;
D) cósmico X terrestre;
E) tecnológico X rudimentar.
A) estrangeiros X brasileiros;
B) emocionante X frio;
C) universal X particular;
D) cósmico X terrestre;
E) tecnológico X rudimentar.
04. ''...nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim...'', ''...e declarou desdenhosamente que aquilo era capim.''; os dois elementos sublinhados no texto indicam, respectivamente:
A) desprezo / desconhecimento;
B) desconhecimento / desprezo;
C) desconhecimento / desconhecimento;
D) desprezo / desprezo;
E) afetividade / menosprezo.
A) desprezo / desconhecimento;
B) desconhecimento / desprezo;
C) desconhecimento / desconhecimento;
D) desprezo / desprezo;
E) afetividade / menosprezo.
05. O motivo que levou o autor a escrever a crônica foi:
A) os americanos terem estabelecido comunicação com a lua;
B) ter nascido um pé de milho em seu canteiro;
C) o pé de milho de seu canteiro ter pendoado;
D) o pé de milho de seu canteiro ter conseguido sobreviver ao transplante;
E) ter sido confirmada a sua opinião de que o que nascia era um pé de milho.
A) os americanos terem estabelecido comunicação com a lua;
B) ter nascido um pé de milho em seu canteiro;
C) o pé de milho de seu canteiro ter pendoado;
D) o pé de milho de seu canteiro ter conseguido sobreviver ao transplante;
E) ter sido confirmada a sua opinião de que o que nascia era um pé de milho.
06. ''...não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente''; o segmento que confirma o que está sublinhado é:
A) ''Suas raízes roxas se agarram no chão...'';
B) ''...suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis'';
C) ''...meu pé de milho pendoou'';
D) ''Meu pé de milho é um belo gesto da terra'';
E) ''...afirmou que era cana''.
A) ''Suas raízes roxas se agarram no chão...'';
B) ''...suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis'';
C) ''...meu pé de milho pendoou'';
D) ''Meu pé de milho é um belo gesto da terra'';
E) ''...afirmou que era cana''.
07. Considerando o segundo e o terceiro parágrafos do texto, o segmento que pode ser considerado uma interrupção da narrativa é:
A) ''Quando estava com dois palmos, veio outro amigo e afirmou que era cana'';
B) ''-mas descobri que era um pé de milho'';
C) ''Mas ele reagiu'';
D) ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'';
E) ''Ele cresceu, está com dois metros...''.
A) ''Quando estava com dois palmos, veio outro amigo e afirmou que era cana'';
B) ''-mas descobri que era um pé de milho'';
C) ''Mas ele reagiu'';
D) ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'';
E) ''Ele cresceu, está com dois metros...''.
08. A substituição correta do termo sublinhado por um sinônimo está em:
A) ''Transplantei-o para o exíguo canteiro...'' = raso;
B) ''...e declarou desdenhosamente que aquilo era capim'' = depreciativamente;
C) ''...veio enriquecer o nosso canteirinho vulgar...'' = popular;
D) ''Anteontem aconteceu o que era inevitável...'' = imprevisível;
E) ''...que se afirma com ímpeto e certeza'' = velocidade.
A) ''Transplantei-o para o exíguo canteiro...'' = raso;
B) ''...e declarou desdenhosamente que aquilo era capim'' = depreciativamente;
C) ''...veio enriquecer o nosso canteirinho vulgar...'' = popular;
D) ''Anteontem aconteceu o que era inevitável...'' = imprevisível;
E) ''...que se afirma com ímpeto e certeza'' = velocidade.
09. A substituição da expressão sublinhada por um só termo é INADEQUADA em:
A) ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'' = urbano;
B) ''...tal como vi numa noite de luar...'' = enluarada;
C) ''...beijado pelo vento do mar...'' = marinho;
D) ''...exíguo canteiro da casa.'' = doméstico;
E) ''...é um belo gesto da terra.'' = terrestre.
A) ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'' = urbano;
B) ''...tal como vi numa noite de luar...'' = enluarada;
C) ''...beijado pelo vento do mar...'' = marinho;
D) ''...exíguo canteiro da casa.'' = doméstico;
E) ''...é um belo gesto da terra.'' = terrestre.
10. Em todos os segmentos abaixo há um sintagma construído por um substantivo + adjetivo (ou vice-versa); o sintagma em que a troca de posições entre esses vocábulos pode trazer mudança de sentido é:
A) ''Transplantei-o para o exíguo canteiro da casa'';
B) ''Secaram as pequenas folhas'';
C) ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'';
D) ''...e é um esplêndido pé de milho'';
E) ''...em um canteiro espremido...''.
A) ''Transplantei-o para o exíguo canteiro da casa'';
B) ''Secaram as pequenas folhas'';
C) ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'';
D) ''...e é um esplêndido pé de milho'';
E) ''...em um canteiro espremido...''.
GABARITO
01-C | 02-A | 03-C | 04-B | 05-C | 06-A | 07-D | 08-B | 09-E | 10-C
01-C | 02-A | 03-C | 04-B | 05-C | 06-A | 07-D | 08-B | 09-E | 10-C
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